Mal o ônibus parou no ponto, um velho correu
para subir no mesmo, esbarrou nos demais passageiros que esperavam pelo
coletivo, subiu na frente de todos, também não esperou que uma senhora
descesse, ignorando a regra dos bons cavalheiros, mulheres primeiro, de pronto
direcionou seus olhos buscando um lugar para sentar se, mas todos encontravam
se ocupados, inclusive os lugares reservados para a terceira idade e deficientes,
em um desses bancos uma moça cochilava, o velho aproximou - se no intuito de
reclamar seu lugar por direito, desistiu, a jovem garota também gozava do mesmo
direito, sua barriga denunciou a gravidez, o velho resmungou algo, atracou se
na barra de ferro ficando na passagem sem se incomodar com os demais, o ônibus
seguiu seu trajeto, alguns pontos depois novamente parou para que outros
usuários subissem, entre eles um idoso, que sem se importar com a lotação do
transporte cedeu a sua vez para uma estudante que carregava livros pesados
subir, entrando em seguida, cumprimentou o motorista com um “bom dia”, procurou
um lugar para não atrapalhar a passagem, o coletivo seguiu sua viagem, o idoso encostou
próximo a uma senhora com cabelos grisalhos que estava sentada no assento
preferencial, com ela puxou uma saudável conversa sobre um assunto não muito
agradável, política, o idoso também atenciosamente ouviu palavras cristãs de um
senhor que levava consigo a Bíblia Sagrada, enquanto a viagem prosseguia o
idoso era a simpatia em pessoa, interagindo com os outros usuários e o
cobrador, se contrapondo á feição fechado do velho que reclamava da má sorte de
não encontrar um banco para se sentar, e também sobre outras infelicidades de
sua vida, para o velho o caminho foi longo e entediante, custou a chegar ao fim,
para o idoso o percurso até o final da linha foi proveitoso e animador, passou
rápido, quando a porta do ônibus abriu o velho foi o primeiro a descer com
pressa e praguejando baixinho, o idoso despediu se do cobrador e da senhora, esperou
com calma a sua vez de descer, com um “obrigado” e um “bom trabalho” agradeceu
ao motorista, o velho e o idoso foram pra lados diferentes, o velho correu para
mais algumas rodadas do bingo clandestino em que passava seus dias, o idoso por
sua vez dirigia se ao cemitério indo visitar o jazigo de sua querida esposa: os
dois eram homens solitários, mas cada um tinha o seu jeito de encarar as
amarguras da vida.