Oceano
O oceano está calmo, poucas ondas banham
o cais, desponta o sol ornamentando em raios o tranquilo horizonte, o céu
desnuda se das nuvens, o cartão postal emerge perante os meus olhos, aprecio a
magnífica paisagem, meus distintos pensamentos vagam, sem pressa, sem destino,
minha mente me conduz, cruzo a vastidão do oceano Atlântico, chego ao outro
lado, o continente de meus antepassados, então pego-me a pensar sobre os
homens, mulheres, crianças, seres humanos que sem escolha foram escravizados,
trancafiados, acorrentados a grilhões em abarrotados navios negreiros, sem
direitos, ameaçados pela força da chibata, sofrendo com o infernal calor, a
incessante sede, a escassez de alimentos, a falta de higiene que propicia a
aparição de graves doenças, não senti em minha pele, mas imagino, somente
imagino a aflição, o terror abordo destas infelizes embarcações, o terrível
sofrimento, só de imaginar as condições sub-humanas sinto a agonia, a tristeza,
o pavor, todos os medos que situavam se na escuridão dos imundos porões, para
aqueles que sobreviviam à inglória viagem, as “recompensas” davam se com os
injustos, exaustivos trabalhos forçados, as rústicas senzalas, o tronco para a
punição, por séculos a abominável escravidão existiu, homens julgaram se
superiores, inferiorizando outros homens, tudo por uma questão de cor, a
tonalidade da cútis, o imbecil preconceito nasceu de brancos e sujos corações,
mais de um século depois com fim da escravatura, nós afrodecendentes ainda
sofremos os resquícios deste vergonhoso período da história da humanidade,
sentimos as dificuldades nos fatores sócios econômicos desfavoráveis á maioria
dos negros brasileiros, mas pior é saber que o preconceito ainda persiste em
nosso cotidiano, atitudes racistas revelam se diante de nossas faces, gerando
sentimentos de revolta, puro desgosto, raiva, profunda decepção, que ferem
nossas doloridas almas e nunca cicatrizam as feridas, a amargurante reflexão
faz minha mente regressar ao lado de cá do oceano, me deparo com o contraste
das imagens, meus sinceros pensamentos exauridos pela dor latente da indignação
contrapõem se com a nobre beleza do infindável oceano Atlântico, respiro o ar
da esperança, meu coração abranda, vejo que é hora de prosseguir meu caminhar,
rumo á um futuro melhor, na luta contra a desigualdade, é hora de ir à escola,
orgulhoso de minhas origens africanas, da insistente alegria de minha raça, da
minha cor, sou jovem, negro, brasileiro, sou humano e somente desejo o fim do
preconceito, o respeito, a igualdade entre os homens.
O oceano está calmo, poucas ondas banham
o cais.