Olhos tristes dramaticamente choravam, aflitas
lamúrias, lamentações sinceras, abraços emotivos cheios de compaixão, palavras
consoladoras tentavam amenizar a condição de profunda infelicidade, mas tudo
era inútil, sem sentido, nada mudava a trágica situação, todos que ali estavam
sofriam as conseqüências da abrupta perda, todos solidários a dor latente e
incorrigivelmente cruel, entre lágrimas o definitivo momento chegou, iniciou se
o penoso sepultamento e o fúnebre trabalho de um homem com o coração de pedra,
e de fato para se executar tal tarefa é necessário ter o coração de pedra; alma
de gelo.
Sua alma de gelo fora esculpida ao longo
dos anos, enterro após enterro, mas já no primeiro enterro percebeu a
necessidade de isolar se das lágrimas dolorosas que invadiam seus olhos, seus
sentimentos eram muitos, mas para um coveiro absorver a cada pá de terra a angústia
fulminante da desoladora ocasião seria demais, para manter seu trabalho o pobre
homem recolheu suas emoções no íntimo de suas entranhas, trancando-as em um inquebrável
casulo.
Para muitas pessoas seria fácil largar o
difícil meio de sustento, afinal todos nós temos escolhas a fazer, mas sabemos
que não é bem assim, a vida é implacável e muitas vezes somos forçados a fazer
o que não queremos, o homem em questão foi forçado, sem nenhuma alternativa, por
não possuir estudo algum e nem qualquer outra qualificação, além de tudo ele
tinha família, casará se muito cedo, devido á gravidez precoce de sua então
namorada, com o casamento seus sonhos ficaram em segundo plano, para ele sobrou
á profissão de coveiro, um digno trabalho, porém traumático, o homem sem escolha
congelou seus sentimentos, seu coração sofria tortura por uma dor que não era
sua, a culpa desta irremediável tortura era da vida que reservou lhe o mais
triste dos ofícios.